Por Felipe de Oliveira Ramos
Conversão, palavra comum para os cristãos. Todos nós somos
chamados, por Cristo Jesus, a fazermos esta experiência, ou melhor, tomarmos
essa decisão. "Convertei-vos e crede no Evangelho", nos diz Jesus no
Evangelho de São Marcos, e esse ultimo faz questão de dar início ao relato da
vida pública de Jesus a partir deste convite.
De forma tão grosseira, seja no vocabulário religioso comum seja
no cotidiano das pessoas não-crentes, a palavra conversão está ligada apenas a
uma mudança superficial: a adesão a uma doutrina ou realidade religiosa.
Diz-se, dessa forma, que "fulano converteu-se ao cristianismo", ou
que "fulano agora vai a Igreja todos os domingos, pois se converteu".
Um convite tão sério de Jesus, a ponto de Marcos destacar em seu evangelho, não
poderia tratar-se apenas dessa "filiação" à alguma doutrina, e é
disso que quero tratar um pouco: sobre o sentido da verdadeira conversão.
Primeiramente, façamos uma análise etimológica desta palavra já
gasta no nosso cotidiano. Conversão tem origem na palavra latina
"convertere", onde o termo "vertere" significa virar,
enquanto o "com" significa "junto". Ou seja: uma conversão
é uma virada, ou melhor, um movimento ou mudança que se faz junto. Daqui, duas
perguntas devem subir até as nossas consciências: Virar para onde? E junto de
que ou de quem?
A respeito da primeira pergunta, podemos simplesmente responder
que: a conversão é um "virar-se" primeiro para Deus e depois para si
mesmo. Indico esse caminho já sabendo que não há distinção no caminho da
conversão no conhecer a Deus e o conhecer-se a si mesmo. Encontrar-se consigo
mesmo em Deus é o primeiro passo humilde para que a conversão possa acontecer.
A respeito da segunda pergunta, podemos responder de forma tão
simples como respondemos a primeira: a conversão é feita junto de si e junto a
Deus. Junto de si, pois o convite à conversão é um convite a essa atitude de
modificar-se corajosamente por dentro, fazer a experiência de sair de si e
admitir o senhorio de Jesus. Mas a conversão também é feita junto a Deus, pois
sem ele não conseguiríamos dar certos passos, como uma criança aprendendo a
andar. A conversão necessita dessa atitude tão singela, de olhar nos olhos de
Jesus a nos amar, dar o espaço e o tempo para que ele nos mude, nos oriente:
sair do centro, e dar livre acesso ao Senhor.
Portanto amados irmãos, converter-se não é simplesmente
frequentar este espaço ou aquele, dizer-se crente nesta ou naquela verdade:
lembremos que antes de nos convidar a crer no evangelho, Cristo nos convida a
conversão, agir para então entender, experimentar para depois
"avaliar". Lembra-nos Tomás de Kempis que "quem quiser
compreender com satisfação e proveito as palavras de Jesus Cristo deve conformar
sua vida com a dele", ou seja: experimentar, viver para enfim crer, ter fé
no evangelho, pois experimentou-se com a vida aquilo que se leu e se falou.
Lembremos ainda, se me permitem, que a conversão é um exercício
diário: se deixarmos de fazer esse movimento em direção a Deus e a si mesmos,
mudando internamente as coisas de lugar segundo a vontade de Cristo Jesus,
correremos o risco de perdermos aquela humildade fundamental de servos, e por
assim dizer, perderemos também a graça de sermos chamados por Cristo de amigos,
não por que Cristo não vá mais gostar de nós, mas por que o amigo vive tudo com
e pelo outro. Deixemo-nos viver com e por Jesus, para que a nossa conversão e
esforço sejam perfeitos, pois é convite dele mesmo que "busquemos ser perfeitos
como o pai do céu o é" (Mateus 5,48).
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