(até os peixes sofrem com o
anticoncepcional lançado nos rios)
Por Padre Luiz Carlos Lodi.
Quando o Papa Francisco
escreveu a encíclica Laudato si, sobre o “cuidado da casa comum”,
repudiou energicamente o controle demográfico como suposto meio para eliminar a
poluição ambiental, criticou as pressões sobre os países em desenvolvimento
para que estes adotem políticas de “saúde reprodutiva” como condição para
receberem ajuda econômica (n. 50) e atacou especificamente o aborto como
incompatível com a defesa da natureza (n. 120). No entanto, a coalizão
internacional Voice of the Family (Voz da família) mostrou-se
preocupada pela ausência na encíclica de uma condenação da anticoncepção e de
uma reafirmação dos dois significados inseparáveis do ato conjugal: o unitivo e
o procriador. Segundo Maria Madise, porta-voz de Voice of the Family,
“as nações em desenvolvimento estão sendo inundadas de contraceptivos e
sujeitas a pressões para legalizarem o aborto. Como a contracepção e o
ambientalismo caminham tão frequentemente de mãos dadas, é profundamente
preocupante que o ensinamento da Igreja sobre a primazia da procriação não seja
reafirmado”[1].
Há, porém, um outro motivo
pelo qual teria sido importante uma menção aos anticoncepcionais na citada
encíclica. Os hormônios contidos na pílula, como o etinil-estradiol, acabam
sendo excretados pela mulher e lançados no esgoto, de onde vão para os rios. Os
efeitos de tais drogas sobre os peixes são simplesmente devastadores. Leiamos
esta matéria jornalística de janeiro de 2013:
O
descarte irregular de remédios pela rede de esgoto faz com que os peixes
masculinos percam a capacidade de fecundar óvulos e, em casos mais graves,
até desenvolvam ovas, característica feminina. Essa é a constatação do
professor do Instituto de Química da Unicamp (Universidade Estadual de
Campinas) Wilson Jardim, em uma pesquisa no rio Atibaia, que abastece 90% de
Campinas.
[...]
Segundo
Wilson, uma das grandes vilãs para a situação é a pílula anticoncepcional, que
tem efeito direto nas glândulas sexuais nos animais. Dependendo da quantidade
de substâncias, os machos têm reações que vão desde perder o interesse nas
fêmeas até mudança no sistema reprodutor, com produção de ovas. ‘Já dispomos de
estudos científicos que apontam que esses compostos têm causado sérios danos
aos organismos aquáticos. Está comprovado, por exemplo, que eles podem provocar
a feminização de peixe’, disse[2].
Esse fenômeno não é novo
nem é exclusivo dos rios do Brasil. Em julho de 2004, uma matéria da BBC News
intitulada “Poluição muda sexo de peixe” mostrava o mesmo problema na
Inglaterra:
Um
terço dos peixes machos em rios britânicos está em processo de mudança de sexo
devido à poluição no esgoto humano, sugere uma pesquisa feita pela Agência do
Ambiente.
Uma
investigação feita em 1.500 peixes de 50 locais de rios encontrou que mais de
um terço dos peixes machos exibiam características femininas.
Pensa-se
que a principal causa sejam os hormônios no esgoto, incluindo os produzidos
pela pílula anticoncepcional feminina.
A
agência diz que o problema poderia prejudicar as populações de peixes, por
reduzir sua capacidade de reprodução.
Ela
disse que seu estudo destacou a necessidade de as companhias de água
desenvolverem novos tratamentos.
Desde
algum tempo tem havido preocupação de que os produtos químicos conhecidos como
disruptores endócrinos estejam fazendo o peixe mudar de sexo.
Este
último estudo é o primeiro a mostrar a escala do problema na Grã-Bretanha[3].
Mas os peixes não são os
únicos atingidos. Os hormônios sintéticos lançados nos rios podem ser
encontrados na água das torneiras das casas, mesmo após o tratamento. Quais
serão seus efeitos sobre as pessoas?
Quanto aos humanos, prossegue
Wilson Jardim, há indícios de que os contaminantes não legislados,
especialmente hormônios naturais e sintéticos, como o estrógeno, podem provocar
mudanças no sistema endócrino de homens e mulheres. Uma hipótese, que carece de
maiores estudos, considera que esse tipo de contaminação poderia estar
contribuindo para que a menarca (primeira menstruação) ocorra cada vez mais
cedo entre as meninas[4].
Há ainda um fato que pode
estar relacionado à presença de hormônios sintéticos na água de beber: vários
estudos mostram que, há décadas, tem havido uma queda na quantidade de
espermatozoides produzidos pelo homem ocidental. Em 1992 um grupo dinamarquês
publicou um estudo que mostrava o declínio da qualidade de sêmen num período de
cinquenta anos (de 1940 a 1990)[5].
Em 2012, pesquisadores franceses encontraram uma queda acentuada da quantidade
de espermatozoides em homens sadios, durante 17 anos (entre 1989 e 2005)[6].
Embora se tentem identificar outras causas para o contínuo decréscimo da
fertilidade masculina, não é possível excluir a priori o
efeito poluente dos anticoncepcionais. Essa tese foi defendida, por exemplo,
pelo médico Pedro José Maria Simon Castellvi, presidente da Federação
Internacional das Associações de Médicos Católicos, em um artigo publicado em 4
de janeiro de 2009 no jornal L’Osservatore Romano:
Um
outro aspecto interessante [dos anticoncepcionais] diz respeito aos efeitos
ecológicos devastantes das toneladas de hormônios despejados por anos no
ambiente. Temos dados suficientes para afirmar que um dos motivos nada
desprezível da infertilidade masculina no ocidente (com sempre menos
espermatozoides no homem) é a poluição ambiental provocada pelos produtos da
‘pílula’. Estamos aqui defronte a um efeito antiecológico claro que exige
ulteriores explicações da parte dos fabricantes.[7]
Conclusão:
Quando em 1968 o Beato Paulo
VI reafirmou, com a encíclica Humanae vitae, a proibição da
anticoncepção, fez diversas profecias, que foram todas cumpridas: os
anticoncepcionais abririam as portas para a infidelidade conjugal, a degradação
da moralidade, a perda do respeito pela mulher (reduzida a simples instrumento
de prazer egoísta) e tornar-se-iam uma arma perigosa nas mãos das autoridades
públicas para impor aos cônjuges a limitação de sua prole[8].
No entanto, o Santo Padre não foi capaz de prever o efeito devastador da pílula
sobre o organismo da mulher nem o enorme dano ambiental causado por essa droga.
Ao vermos os peixes afetados pelo pecado humano da anticoncepção, vêm à nossa
mente as palavras de São Paulo sobre o alcance cósmico do pecado: “a criação
inteira geme e sofre as dores do parto até o presente” (Rm 8,22).
Anápolis, 17 de setembro de
2015.
Pe. Luiz Carlos Lodi da Cruz
Presidente do Pró-Vida de Anápolis.
[1] Voice
of the Family statement on the encyclical Laudato Si, in:
[2] Eduardo
SCHIAVONI. Descarte irregular de remédio faz peixes perderem capacidade
de reprodução, mostra pesquisa. UOL notícias, 10/01/2013, em: http://noticias.uol.com.br/meio-ambiente/ultimas-noticias/redacao/2013/01/10/descarte-irregular-de-remedio-faz-peixes-perderem-capacidade-de-reproducao-mostra-pesquisa.htm
[3] Pollution
'changes sex of fish'. BBC News, 10/07/2014, in: http://news.bbc.co.uk/2/hi/uk_news/3882159.stm
[4] Eduardo
SCHIAVONI. Descarte irregular de remédio... UOL notícias, 10/01/2013.
[5] Evidence
for decreasing quality of semen during past 50 years.
BMJ 1992;305:609, 12/09/1992, in:http://www.bmj.com/content/305/6854/609
[6] Decline
in semen concentration and morphology in a sample of 26 609 men close to
general population between 1989 and 2005 in France. Human Reproduction,
4/12/2012, in: http://humrep.oxfordjournals.org/content/early/2012/12/02/humrep.des415.full.pdf+html
[7] Pedro CASTELLVI, L’«Humanae vitae»
Una profezia scientifica, L’Osservatore Romano,
03/01/2009, in:https://tuespetrus.wordpress.com/2009/01/03/l%C2%ABhumanae-vitae%C2%BB-una-profezia-scientifica/
[8] Cf. PAULO VI, Humanae vitae, n.
17.
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